segunda-feira, novembro 15, 2010

O (mau) estado do nosso futebol para miúdos

O futebol é o desporto com mais praticantes nos Açores. Em todas as ilhas, aos fins-de-semana, têm lugar dezenas e dezenas de jogos em todos os escalões. Normalmente, as partidas da formação não são alvo de qualquer cobertura jornalística, limitando-se alguns jornais a fazer referências aos resultados, em pequenas caixas noticiosas, em páginas de segunda linha.

Provavelmente, será aí que está um dos grandes problemas. Se a informação não chega à opinião pública, difícil é fazer qualquer avaliação sobre o estado de coisas, sobre as autênticas barbaridades a que se assiste em alguns campos e aos erros de "casting" da programação competitiva, nomeadamente em S. Miguel.

Em termos de calendarização, e a título de exemplo, refira-se a situação ocorrida no passado fim-de-semana, em que os Iniciados e os Juvenis foram "obrigados" a jogar por duas vezes, com menos de 48 de horas de intervalo entre as duas partidas, quando a lei desportiva obriga a um interregno de, pelo menos, 72 horas. A Associação de Futebol de Ponta Delgada agendou um fim-de-semana com pesada carga para aqueles dois escalões. Perante isso, é difícil falar em qualidade.

Todavia, esta é só uma ponta de um icebergue muito complicado quando se fala em futebol de formação na maior ilha açoriana. Todos os sábados, e por vezes a meio da semana, assistem-se a episódios deveras elucidativos do mau estado em que se encontra esta área.

Dirigentes mal formados, treinadores que promovem más práticas e condutas, agressões, balneários destruídos, pequenas vinganças pessoais contra algumas pessoas e clubes, enfim um rol difícil de imaginar por quem está de fora deste fenómeno.

Quem o acompanha sabe. Há quem, contudo, se prefira calar. Por conveniência, ou por falta de um espaço apropriado para fazer ouvir a sua voz, ou escrever o que lhe vai na alma.

Comecemos por algo pequeno, mas que acaba por ser uma situação gravosa quando se tem por missão treinar crianças ou jovens. Falo do tabaco. Não percebo como se permite que treinadores e dirigentes fumem num banco de suplentes, principalmente quando se sabe que, por exemplo, nos escalões profissionais tal atitude é proibida, sendo merecedora de significativas sanções. No entanto, nos escalões de formação, esta prática é permitida e acontece vezes a fio nos nossos campos.

Depois, deve denunciar-se os actos violentos que acontecem em determinados jogos e que, certamente, não merecem a devida sanção pelos responsáveis dos clubes a que os atletas pertencem.

Ainda no passado dia 30 de Outubro, um dos balneários do campo das Figueiras, em Santo António, ficou literalmente destruído, depois de atletas e mais sabe-se lá quem terem partido portas, entre muitas outras coisas, após determinada equipa ter perdido um jogo de forma que não merece contestação. Ao que sei, o clube lesado já fez queixa à Associação de Futebol de Ponta Delgada, até porque houve jogadores que foram agredidos. Restará saber se o organismo agirá em conformidade com os actos praticados.

Sobre as pequenas vinganças, a que acima me refiro, não irei referir nomes, nem jogos, nem os clubes que nelas estiveram envolvidos. Não o faço porque considero que tal revelação só iria prejudicar ainda mais os que foram lesados.

Agora que existem, lá isso existem. Salta à vista quando alguém não gosta do clube A, B, ou C, ou de um determinado dirigente ou treinador. No sábado passado (30 de Outubro), consegui assistir a casos em que isso foi por demais evidente.

O pior é que ao prejudicar quem menos se gosta está-se a prestar um mau serviço ao futebol, principalmente quando falamos em jogos de escalões compostos por miúdos que têm entre oito e 12 anos (Benjamins e Infantis). As crianças não compreendem o que se está a passar, ficam revoltadas, choram perante a sua impotência e acabam por deixar de sentir entusiasmo pelo jogo. Os "cozinhados" são algo que não conseguem aceitar, mesmo que não percebam que estes "arranjinhos" têm um objectivo declarado de prejudicar alguém ou alguma instituição. É este o estado de coisas a que se assiste por cá.

Enfim, o melhor talvez seja assobiar para o ar, respirar fundo e prosseguir. É que, como se diz, as "pessoas passam, mas as instituições e de quem delas gosta ficam".





5 de Novembro de 2010

Pedro Botelho
Jornalista

3 comentários:

FM disse...

Bem haja Pedro Botelho (e Medina por republicar) por porem o dedo na ferida...

Anónimo disse...

Mais palavras para quê está tudo dito aqui esse é o estado a que se deixa o Futebol dos miúdos chegar e se não se "Torce o pepino aqui" a tendencia é piorar. Não sei se o Mister Medina se lembra de eu lhe ter confidenciado que à umas semanas atrás tive vontade de deixar o futebol devido a várias atitudes de um miudo durante um só jogo de futebol e mais grave ainda foi a resposta do seu treinador depois de eu lhe ter dito em bons modos para falar com aquele mesmo miudo e para rever o seu comportamento, qual o meu espanto ao ouvir a sua resposta tambem em bons modos, "não tenho nada a rever porque trata-se de um comportamento de um jogador normalisimo". Ora bem se o comportamento normalissimo de um jogador ainda pra mais de 13 Anos é Provocar constantemente os seu adversários, agredir sorrateira e descaradamente, "Cuspir" para o banco adversário várias vezes e no final do jogo mandar um pontapé fortissimo com a bola para o banco adversário que por sorte não atingiu ninguem, Então eu que estou a apenas 3 anos nestas andanças não me identifico com isso e dai naquele momento ter tido uma vontade enorme de abandonar tudo porque aquela não era a minha ideia de formação e não quero dizer que sou melhor que os outros porque tambem tenho os meus erros mas tento não os repetir para não contribuir para o mau estado do Futebol dos miúdos.
Mas ainda bem que temos estes espaços como o do Mister Medina e jornalistas com o Pedro Botelho para tentar-mos independentemente da nossa cor clubistica contribuir da melhor forma que pudermos para que os miudos aprendam a jogar futebol sem esse climas e sim com devertimento puro.

Um Abraço.

Pedro Silva

Medina disse...

Caro Pedro,
Desculpa, mas só agora é que reparei no teu comentário. Verdade, recordo-me sim da tua lamentação e mais te digo, pessoas como tu fazem falta ao futebol, por isso amigo, não vaias embora porque melhores dias virão e concerteza nós todos juntos vamos mudar o rumo destas coisas esquesitas que vão aparecendo no futebol. Sabes, a educação nasce no besço e muitos não conseguem acompanhar a evolução das coisas, sem atropelos e sem confusões.

Um grande abraço

Medina