segunda-feira, outubro 15, 2012

Em tempo de eleições: Partidos lembraram-se do desporto




O desporto, apesar de ser uma área envolvendo milhares de pessoas e de ser uma actividade social com grande impacto, não merece a atenção devida dos partidos políticos quando se preparam para eleições.

Mas algo mudou para o acto eleitoral do próximo domingo.

O jornal “Diário Insular” deu voz aos três líderes dos partidos com mais possibilidade de serem governo. Realizou um trabalho sério, importante e pouco vulgar.

Um exemplo e uma chamada de atenção para os órgãos de Comunicação Social públicos, Antena 1 e RTP-Açores, entretidos noutros enredos, ao ponto de desleixarem uma área conquistada com muito labor por meia dúzia de profissionais competentes. Desapareceram os programas televisivos “Troféu”, “Segunda Volta” e “Lançamento” e na rádio há uma quebra de qualidade, principalmente na “Tarde Desportiva”, devido à falta de pessoas. E, depois, querem que seja uma televisão e uma rádio regionais, mas com conteúdos de outras paragens. Com este processo, a televisão e a rádio públicas serão vistas por apenas alguns açorianos.

Com um questionário idêntico para PSD, PS e CDS/PP, o “Diário Insular” possibilitou aos que seguem esta área saberem as linhas mestras para o desporto açoriano nos próximos quatro anos.



PSD com orientações pertinentes



Berta Cabral já tinha dado o mote em Julho. Face aos rumores de que o desporto era secundário para o PSD, reuniu cerca de oito dezenas de agentes desportivos da ilha de S. Miguel, compilando dados importantes que pretende por em prática.

Na entrevista concedida, nota-se que estudou a lição. Sabe do que fala. Apresenta pontos determinantes para implementar e que não têm merecido a atenção nas legislaturas anteriores.

Refere um maior apoio ao escalão sénior, a passar por problemas gritantes; a criação do estatuto do dirigente; maior atenção ao desporto feminino; medicina desportiva; maior fiscalização dos dinheiros atribuídos; desporto escolar, infra-estruturas e o prosseguimento do apoio aos clubes que estão nos principais patamares dos desportos colectivos e individuais.

Mas há um aspecto que tem chamado a atenção: não alterar o que está bem. Realmente, o desporto é uma área que tem caminhado com segurança nos vários sectores.

Surpreendeu-me os conhecimentos de Berta Cabral nesta área. Se houver mudança de governação, o desporto irá continuar a trilhar pelo mesmo caminho do progresso, dentro das limitações orçamentais e de uma série de modalidades e de clubes dispersos por 8 ilhas.



PS quer preservar o modelo



Vasco Cordeiro está numa posição privilegiada. Isso mesmo se conclui quando afirma que pretende “preservar o modelo que produziu efeitos positivos”. Outra coisa não seria de esperar. Até mesmo Berta Cabral percebeu.

A Direcção Regional do Desporto tem sido ao longo dos anos um modelo de rigor e de cumprimento, quer nos apoios aos clubes e às organizações, quer no desenvolvimento do desporto, abrangendo todas as modalidades. Esta política aprovada pelo nosso Parlamento faz com que as nossas equipas e clubes vão competindo sem passarem pelas restrições de quem deu muito sem rigor e sem lei. Refiro-me ao desporto madeirense.

Interessante Vasco Cordeiro pretender também dar uma maior atenção ao desporto feminino.

Atentos ficaremos à assunção de ter chegado “a hora de uma forte aposta na qualidade e na excelência do sistema desportivo açoriano”. Também achamos. Resta ver como e se será implementada caso o candidato do PS seja chefe do Governo. Não é fácil, depois dos hábitos adquiridos. Mas é o caminho certo após todos estes anos de apoios gerais.



CDS/PP com visão regional



Artur Lima apresenta uma visão que não abona a participação de excelência que apenas abrange 12 equipas de 9 clubes. É do tipo “vá lá fora mas cá dentro”, retrógrada do que se pretende para a expansão e afirmação dos nossos clubes a nível nacional e internacional.

O líder regional do CDS/PP diz ao “Diário Insular” que os apoios recebidos pelos clubes que estão nas principais divisões para promover a Região devem incidir nas “equipas que promovam efectivamente o atleta açoriano”. Elas promovem, cativam jovens, mas a nossa falta de competição interna nos escalões de formação (que são bem apoiados, ao contrário dos seniores, que são alvo, e muito bem, do PSD), obriga-las, como todos os clubes de todas as regiões, a recrutarem elementos de fora do arquipélago. Se assim não fosse, a Fonte do Bastardo, o Ribeirense, “Os Toledos”, o Santa Clara, o Boa Viagem, o Sporting da Horta, o Candelária, o Lusitânia e o Ricardo Moura nunca seriam campeões nacionais, ou conquistariam troféus de referência, ou estariam em provas internacionais. Temos de ser coerentes. O nome dos Açores é mais focado quando há êxitos.

Artur Lima olha somente para os números das verbas despendidas. É um mal que assola muita gente.

Até parece que nesta Região só o desporto é subsidiado. Basta ler o Jornal Oficial e ver as verbas que são entregues em muitos sectores. Alguns deixam dúvidas quanto à reciprocidade e o seu destino. Quase tudo recebe dinheiro do Governo. E a maioria sem a publicidade que é dada aos dinheiros do desporto, porque são muito poucos os que lêem o Jornal Oficial. No desporto há transparência, há o cuidado de informar a população do que é atribuído aos clubes, aos atletas, às associações, aos eventos. Não são verbas “encapotadas para financiar os clubes”. São verbas para que os clubes possam fazer boa figura nas competições em que estão envolvidos.

O candidato do CDS/PP quer mandar executar “complexos desportivos que reúnem todas as condições necessárias”, em vez de se edificarem “pavilhões em todas as freguesias ou de se meter sintéticos em todos os lados para se ganharem eleições”.

O dinheiro investido para a concretização de competições nacionais e internacionais é muito superior ao que fica na Região. Atente-se nos 120 mil euros doados pela secretaria da Economia para os nossos campos de golfe receberem dois torneios organizados por empresas privadas (Mário Carvalhosa e Descoberta Azul - Associação). Tem justificação entregar a uma senhora Ana Cabral a quantia de 75 mil euros para a realização de um torneio internacional de bridge, modalidade com um relevo enorme? Paga-se para os jogadores virem até Ponta Delgada? O que realmente fica nos Açores?

Já temos complexos desportivos com “as condições necessárias”. Para quê construir novos recintos de grande envergadura se apenas uma vez por outra poderemos ter finais internacionais ou nacionais? O retorno financeiro e económico só se repercute caso as provas tenham uma duração superior a 4/5 dias.

Precisamos é de pavilhões cobertos, de custos baixos como os que estão sendo edificados, para que a população possa praticar actividade desportiva e os nossos atletas possam melhorar o seu índice competitivo e de campos de futebol com condições.

Quem defende “a descentralização da actividade física e desportiva para as localidades mais carenciadas e mais distantes dos principais centros urbanos, quer para o incremento do estímulo à criação de colectividades/equipas de freguesia, quer para a facilitação da actividade desportiva de competição, quer ainda para a dinamização da prática desportiva regular por faixas mais débeis da nossa sociedade, particularmente crianças, jovens e idosos”, e não quer recintos localizados, mas pavilhões grandiosos, não haverá um grande contra senso? Vão para o adro das igrejas, quando não chover...

Por fim, “a politica desportiva regional é hoje feita pelos clubes”, diz Artur Lima. Que grande desconhecimento. A política desportiva regional foi aprovada pelos senhores deputados na “casa da nossa democracia”, situada na Horta. Como na altura não estava lá...

O candidato do CDS/PP tem aspectos positivos. Ainda bem. Desporto escolar; actividade física dinamizada; dirigentes com incentivos e com conhecimentos de gestão; e desporto e turismo de mãos dadas, mas não da forma como tem acontecido. Exige-se mais e melhor critério na doação de verbas para eventos. A Associação de Futebol de Ponta Delgada deu o exemplo que, com poucos recursos financeiros próprios e numa organização própria, sem empresas ou forasteiros, cativou o investimento para que todo o dinheiro ficasse nos Açores.



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