Em Julho do ano passado o presidente do Desportivo das Aves disse que os clubes da II Liga estavam “metidos num grande sarilho”.
Armando Silva referia-se ao aumento do campeonato da II Liga de 16 para 22 clubes, numa época de fracos recursos das colectividades, sem patrocinadores e sem os apoios que a Liga havia definido no mandato de Fernando Gomes.
São 21 jogos em casa, contra 15 do passado recente; descem 3 equipas ao novo campeonato nacional - por troca com os vencedores de cada uma das zonas da actual II divisão -, sendo o esforço competitivo muito maior, devido aos jogos realizados a meio da semana.
Realmente é um grande sarilho, cujas consequências poderão trazer danos irreparáveis para alguns clubes e para algumas equipas.
As despesas são elevadas com o aumento de 12 jogos, repartidos, essencialmente, pelas organizações e pelas deslocações. Mais penalizados são os três clubes insulares. O Santa Clara tem um acréscimo no orçamento na ordem do 60 mil euros e o valor que recebeu não atingiu aquele montante. São mais 6 viagens e as receitas de bilheteira pouco aumentarão.
MAIS GENTE SÓ
NOS “GRANDES”
Cumprida que está a primeira volta do campeonato, a presença de seis equipas “B” dos principais clubes portugueses tem sido, como se esperava, atraente para quem as defronta, para as equipas visitadas e para... pouco público.
O número de espectadores não subiu como era expectável com as visitas de clubes como o Benfica, o Sporting, o F. C. Porto, o Sporting de Braga e o Guimarães.
Ao fim da 1.ª volta, o jogo de 4.ª feira, entre o Belenenses e o Sporting “B” (2-1), foi o que teve mais pessoas (1.858), ocupando o 11º lugar. Ou seja, até aquela posição têm tido mais público os jogos em casa das equipas “B”.
Entre os 20 jogos com maior assistência na 1.ª volta, somente o Portimonense-Benfica “B” surge na tabela (14.ª posição), com 1.812 espectadores.
Quatro daqueles clubes têm registado maior adesão aos seus jogos. O Guimarães já teve 22.540 espectadores no “Afonso Henriques”, seguido do Benfica com 18.006 na “Luz”, do Porto com 14.996 em Gaia, surgindo o Braga na 5.ª posição com 11.692 no seu campo. O Sporting, por estar a jogar em Rio Maior, dificultando a deslocação das pessoas, ocupa a 20.ª posição no “ranking” de espectadores, com 4.944 em 11 jogos. O Santa Clara está no 11.º lugar, com 8.430 pessoas contabilizadas nos torniquetes de entrada do estádio de S. Miguel, também em 11 jogos.
A presença das equipas “B” nesta divisão não acontece em todos os países. Apenas Espanha tem um modelo semelhante. Em França estas equipa militam na 4ª divisão e na Alemanha na 3ª divisão. Em Inglaterra, Holanda e Itália há campeonatos dirigidos apenas para as equipas “B”.
Em Portugal, devem todos (jogadores e treinadores incluídos) sentarem-se e fazerem um balanço se, se justifica continuar com este campeonato/maratona, apesar de haver um contrato para nos próximos 6 anos se manter este figurino.
PLANTÉIS FORA DA REALIDADE
Os parcos recursos impediram a maioria dos clubes de terem plantéis com o número de atletas apropriado para uma competição com 42 jogos. Claro que irão pagar caro, porque surgem lesões mais prolongadas e castigos mais frequentes. Quem fizer a melhor gestão será premiado tanto para a subida como para evitar a descida.
Num estudo feito por Manuel Marques, da equipa técnica do Desportivo das Aves, são necessários 28 jogadores (4 guarda-redes; 9 defesas, 8 médios e 7 avançados) para fazer face a uma prova com 42 jornadas.
À base de 23 futebolistas (incluindo 3 guarda-redes), os treinadores terão de juntar 5 juniores treinando diariamente com a equipa principal.
Para atingir o perfil ideal do jogador de II Liga, competindo numa prova com este número de jogos, é necessário que seja extremamente regular nos anos anteriores, mentalmente forte, com um registo de lesões musculares diminuto, com cadastro disciplinar regular e que tenha uma boa relação humana.
77 PONTOS PARA SUBIR
A média de pontos para subir de divisão deve rondar os 77 pontos e para não descer os 42 pontos. Esta média foi retirada do que conseguiram as equipas nos campeonatos de Espanha e de Itália com o mesmo número de clubes e durante seis épocas.
Contudo, em Espanha, houve temporadas em que foi necessário as equipas primeiro classificadas atingirem 81 pontos (08/09), 80 pontos (06/07) e 79 pontos (10/11), como noutras épocas com 71 (09/10) e 72 pontos (07/08) foi suficiente para terminar na primeira posição.
Por exemplo, para a evitar a descida em Espanha no campeonato da II Liga, houve épocas em que a primeira equipa acima dos lugares da despromoção teve de conquistar 50 pontos (09/10) e 49 pontos (07/08), como com 35 (08/09), 37 (05/06) e 38 pontos (10/11) chegaram para a permanência.
Já em Itália, em 2007/08 quem ficou em primeiro teve de somar 84 pontos, e para não descer foram precisos 48 pontos nas temporadas de 08/09 e 09/10, mas com 35 pontos “safaram-se” em 07/08.
“MARATONA” A REVER
A rever estará a “maratona” de jogos, incomportável com a realidade portuguesa.
Esta primeira edição da II Liga portuguesa começou a 12 de Agosto e termina a 19 de Maio. Oito das 42 jornadas são a meio da semana. Se contabilzarmos os jogos da Taça da Liga, o Santa Clara, por exemplo, fará 10 jogos às 4.ªs feiras.
Em Espanha, com o mesmo número de jornadas, o campeonato secundário começou a 19 de Agosto e termina a 9 de Junho, seguindo-se jogos do “play-off”. Na época passada o início foi a 26 de Agosto, com a conclusão da 1.ª fase a 16 de Junho.
Já a série “B” italiana tem um calendário parecido com o nosso. Esta temporada começou a 25 de Agosto e fica concluído a 18 de Maio, e na época anterior arrancou a 25 de Agosto e fechou a 26 de Maio. Seguiram-se os jogos do “play-off”.
Autor: José Azevedo
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