quinta-feira, março 08, 2012

« Foi preciso terapia de choque», António Soares / Belenenses

- " Aos 50 anos, a meio do mandato, o líder do Belenenses resume a estratégia para abater o passivo
RECORD - Que balanço faz do seu mandato até ao momento?

ANTÓNIO SOARES - Encontrámos um desequilíbrio profundo entre rendimentos e gastos. No clube, os resultados andavam sistematicamente nos 2 milhões de euros negativos, o que indiciava a existência de um problema estrutural, que foi agravado com a descida de divisão, visto que se perderam 1.55 milhões de euros relativos a receitas de televisão. Em números redondos, o Belenenses tinha uma receita mensal de 200 mil euros e uma despesa de 600 mil euros. Isto aponta para valores negativos de 5 milhões de euros anuais. Estou a falar no clube e na SAD. Era insustentável e o clube não pode estar continuamente a aumentar o passivo.

RECORD - Que decisões foram tomadas?

ANTÓNIO SOARES - Tivemos de optar por uma terapia de choque para colocar ponto final no endividamento. Agimos em duas áreas principais: nos gastos com pessoal e no fornecimento de serviços externos. A redução atingiu os 52 por cento no clube e 36 por cento na SAD. Foi difícil para nós e para os visados, mas era inevitável. Permitiu uma redução global de cerca de 2 milhões. Nos fornecimentos, uma redução de 1.15 milhões.

RECORD - Mesmo assim há prejuízo…

ANTÓNIO SOARES - Houve mais cortes. Só o encerramento das piscinas, que tinham um prejuízo de 25 mil euros mensais, permitiu poupar mais de 300 mil euros. Conseguiu-se colocar o clube a viver com as despesas correntes. O problema é o passivo e, neste momento, não há condições para, em simultâneo, pagar passivo e manter uma gestão corrente equilibrada.

RECORD - E quanto ascende o passivo?

ANTÓNIO SOARES - Em números aproximados, a cerca de 18 milhões: 11, 89 milhões no clube e 6, 35 milhões na SAD. É o passivo corrente.

RECORD - E o não corrente?

ANTÓNIO SOARES - Também existe e prende-se com as dívidas aos fisco e segurança social. Está contratualizado e será pago num prazo de 12 a 15 anos. Permitiu passar um valor de 3.5 milhões corrente para não corrente. Tentámos uma estabilização e as contas actuais refletem esse esforço. Por outro lado, suspendemos o protocolo que obrigava o clube a transferir 150 mil euros por mês para a SAD. Desta forma, foi conseguido um resultado positivo de 1,148 milhões, algo histórico nos últimos anos, mas a SAD ressentiu-se e apresenta prejuízo de 1,286 milhões. Globalmente, vamos apresentar 135 mil euros negativos, mas acredito que, em 2011/2012, o resultado entre as duas entidades, clube e SAD será favorável. O que se destaca é que o Belenenses está a mostrar capacidade para equilibrar as receitas e as despesas correntes.

RECORD - Mas existe o passivo. Que solução para o reduzir?

ANTÓNIO SOARES - Não há milagres. Ninguém pode ter a veleidade de dizer que um passivo destes se resolve de um dia para o outro. No que se refere ao clube, existe património e é preciso rentabilizá-lo. Há um projecto de requalificação a ser negociado com a Câmara de Lisboa (CML) e em relação ao qual já se chegou a um entendimento muito alargado. Na AG de dia 14 será apresentada a planta daquilo que foi negociado.

RECORD - Como vai render?

ANTÓNIO SOARES - A CML vai dar resposta a um PIP (Pedido de Informação Prévio) que será vinculativo relativamente aquilo que se pode fazer em 60 mil metros quadrados de construção, onde se pensa fazer equipamentos desportivos, centros de saúde e educação, pavilhão, ginásio e piscina e ainda um health club, uma residência para idosos e um polo universitário. Depois disso, o Restelo passa a ser apetecível para os investidores.

RECORD - Há parceiros interessados?

ANTÓNIO SOARES - Há conversas adiantadas, mas é impossível formalizar contratos sem o documento da CML, na mão. Contudo tê-lo, na pior das hipóteses, até final de abril. Nessa altura, poderá avançar-se, por exemplo, para um fundo de investimento imobiliário.

RECORD - Tem a certeza que esse documento vai ser mesmo facultado ao Belenenses?

ANTÓNIO SOARES - Tenho. Todas as entidades que tinham de dar parecer nesta questão, já o fizeram. Tudo o que era mais difícil está concretizado.

RECORD - Tem um cálculo do encaixe?

ANTÓNIO SOARES - Será razoável pensar em 1.5 milhões por ano, mas é preciso perceber que, durante alguns anos, a verba será canalizada para pagar passivo. Não há outra maneira.

RECORD - Tem uma ideia da altura em que começou a grande derrapagem no Belenenses?

ANTÓNIO SOARES - Ramos Lopes é um marco na História actual do Belenenses. Realizou um trabalho semelhante ao que esta direcção está a fazer, isto é, de saneamento financeiro com consequências na parte desportiva. Seguidamente, o clube foi liderado por Sequeira Nunes. Havia dívidas, mas a situação estava controlada. Daí para a frente, houve opções que deixaram marcas profundas que vão demorar anos a resolver. Em resumo, de 2005 para cá, existiu um autêntico descalabro do ponto de vista do despesismo.

P.S. O que se passa com o Belenenses poderá acontecer a muitos deles. Por isso, este exemplo é muito actual para muitos clubes!!!! Pelo menos ainda tem patrimonio e mais alguma coisa...enquanto outros... enfim!!

Medina

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