quinta-feira, dezembro 22, 2011

Djaniny: os giros de bicicleta do rapaz que dormia no clube

Tratado como um filho da terra em Velas, São Jorge, onde chegou para estudar energias alternativas, a vila pára para o ver jogar. E há muitos corações divididos.
Açores, futebol, Pauleta. A associação é quase imediata. Mas na pequena vila de Velas (São Jorge), de pouco mais de mil habitantes, há quem queira construir um novo paradigma. Não se trata de um açoriano de gema mas a população sente-o como tal. Conheça um pouco da vida de uma das revelações da Liga, numa viagem guiada pelo Maisfutebol.

Djaniny Semedo chegou aos Açores há pouco mais de dois anos. Descoberto pelo então presidente da Câmara local, num torneio em Cabo Verde, o imponente, mas tímido, avançado veio para fazer um curso técnico-profissional, em energias renováveis. O futebol preenchia-lhe, todavia, a mente. O Velense tornou-se literalmente a sua nova casa.

Meia hora de encantar para o autarca «olheiro»

«Comia na escola e dormia num quartito, na sede do clube. Demos-lhes a possibilidade de ir para uma pensão, mas ele preferia poupar para mandar à família. É um rapaz muito humildade e continua assim apesar do salto para a Liga», conta Luís Gambão, conhecido por Dominique, que é vice-presidente do emblema açoriano e também o treinou, enquanto adjunto.

Cedo mostrou qualidades. «Deu para ver logo no primeiro treino. Para a nossa realidade, era um fora de série. Nunca tinha visto nada sequer parecido na Série Açores. Boça para a frente e ele resolvia», lembra Ricardo Silveira, filho do autarca que o descobriu e ex-colega de equipa e de curso, no qual «cumpria» como aluno, porque a bola era tudo para ele.

Tirsense, Santa Clara e Leiria

Nunca, na história do Velense, modesta agremiação do distrital de São Jorge, um atleta chegou tão alto. «Estamos a falar do Djaniny que marcou agora ao Sporting, mas que há quatro meses corria a ilha para cima e para baixo de bicicleta», lembra Ricardo Gonçalves, outro dirigente do Velense e dinamizador do blog do clube. O meio de transporte foi oferta de um adepto, a planura e as distâncias curtas ajudavam.

A primeira época causou o maior impacto. Encheu a ilha de golos (35), a equipa foi campeã e disputou o apuramento para a Série Açores, mas morreu na praia. A fama espalhou-se e o assédio começou. Sempre no interregno do ano lectivo pela Páscoa, treina-se primeiro no Tirsense (II Divisão) e, no ano seguinte, pela primeira vez no Santa Clara.

Alimentado com bifes e assistências do capitão



No norte conhece Pedro Cordeiro, da Team of Future, que viria a tornar-se no seu empresário e um dos responsáveis pela vinda para o continente. «Foi-me recomendado por um amigo. Mandei-o vir e, em 20 minutos, fiquei maravilhado. Acharam [no Tirsense] que tinha qualidade, mas queriam alguém mais experiente.» Seguiram-se os testes em Ponta Delgada e depois na pré-época dos micaelenses.

A hesitação do Santa Clara foi fatal. «A U. Leiria viu-o frente ao Tourizense e quis avançar logo no final. Vieram depois de propósito ao Porto para fechar a contratação. Ao segundo treino, o Pedro Caixinha mandou-me um sms a dizer que ele era top. O que mais me impressiona nele? A vontade de aprender», reforça o agente.

Aos domingos, em frente à televisão

Os domingos em Velas passaram a ter um novo ritual para os ex-colegas de Djaniny, quando a União passa na televisão. «Ele continua a fazer parte da família. Vamos para a sede, vê-lo jogar. Com o Sporting, estava muita gente dividida. Festejaram o golo dele mas depois foi vê-los de mãos na cabeça quando quase marcou o segundo!», ri-se André Rodrigues, capitão do Velense.

«Qualquer dia, acontece como o Pauleta. Quando os nossos grandes o quiserem, já será tarde», vaticina Dominique. Não deve andar longe da realidade. Por ora, Djaniny começa a ser notícia em Espanha e França. Consta que o Milan também o segue.
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União de Leiria

 Djaniny: alimentado com bifes e assistências do capitão

Histórias de cumplicidades contadas por um dos melhores amigos do avançado leiriense em São Jorge.

Os avançados vivem de golos, mas é preciso alimentá-los. Neste caso, Djaniny foi um privilegiado enquanto viveu em São Jorge. Não só não lhe faltaram assistências em campo para encher de alegria os adeptos do Velense - e foram 50 remates em cheio nas duas épocas -, como comida no prato, confeccionada pelo mesmo colega. Um cozinheiro na equipa? Pode sempre dar jeito...

«Ele foi excelentemente recebido. Veio para o sítio certo, o melhor clube, com as condições mais adequadas e uma estrutura directiva estável. Somos uma família e o Djaniny, que apareceu aí para estudar, foi acolhido como mais um membro. Aqui, pôde desenvolver o seu potencial e aprendeu a dar sempre o máximo», conta ao Maisfutebol André Rodrigues, capitão da equipa de Velas.

Os giros de bicicleta do rapaz que dormia no clube

O médio-ofensivo, com passado pelo Benfica e Sporting nas camadas jovens, assegura ter feito 20 passes para golo ao avançado cabo-verdiano na primeira época nos Açores. A cumplicidade entre ambos era bastante forte e o tempo que passavam juntos estendia-se muito para além dos treinos e jogos. Como não podia ir a Cabo Verde, Djaniny passou várias datas festivas com os amigos da bola.

«Passámos juntos o primeiro Natal. Recebemo-lo em casa, como outro familiar qualquer. Estava também o meu tio Dominique, que o treinou. Era tão magrinho. Estávamos sempre a dizer-lhe para comer. É impressionante como ganhou massa muscular. Um primo meu visitou-o antes do jogo com o Sporting e diz que parece outro. Cresceu imenso. Mas ainda vai evoluir mais, tenha ele sorte», vaticina o amigo.

Capitão, posso fazer um golo como o Messi?

Se em campo Djaniny tinha em André Rodrigues uma espécie de abono tal o entendimento entre o 10 e o ponta-de-lança nos jogos, na vida «civil» o capitão do Velense fazia questão de... encher o estômago ao colega. Era uma forma de o ajudar e, por outro lado, ganhava, digamos, um crítico gastronómico. Com jeito para a cozinha, o médio tinha um hábito domingueiro para o qual arrastava o goleador da equipa.

«Costumávamos ir visitar o meu avô, aos fins-de-semana, antes dos jogos e eu fazia o almoço. Às vezes, brincava com ele: oh Djaniny, toma lá este bife mas é para fazeres três golos logo mais, está bem? Também lhe ensinava receitas, para ele levar lá para Cabo Verde. Era uma forma divertida de passarmos o tempo e, ao mesmo, de o integrar entre nós. Ele adorava estes pequenos convívios», revela.

Meia hora de encantar para o autarca «olheiro»

Foi numa dessas ocasiões que o avançado, inspirado no célebre golo de Messi ao Getafe, lhe fez um pedido especial e também ao mister. «Hoje vou fazer um golo como esse, pode ser?», perguntou, obtendo logo a resposta: «Desde que a bola entre, estás à vontade.» O adversário era o Marítimo Velense, o rival da ilha. «Arrancou ainda do nosso meio-campo defensivo, passou por todos, e até sentou o guarda-redes!»


De uma ilha (Santiago) para outra (São Jorge), de Cabo Verde a Portugal, eis a história de como o avançado leiriense foi descoberto pelo presidente da câmara de Velas.


António Silveira foi o responsável pela vinda de Djaniny para Portugal. Poderia ser o nome de algum «olheiro» mais atento mas não é bem assim. Na altura, há pouco mais de dois, era... presidente da câmara de Velas. E foi nessa condição que se deslocou a Cabo Verde, à Ilha de Santiago, no âmbito de um protocolo com o município de Santa Cruz. Havia festa e, claro, não podia faltar o torneio de futebol.

Os giros de bicicleta do rapaz que dormia no clube

«Perguntei ao meu homólogo na altura se havia lá alguns rapazes com jeito para a bola, ele garantiu-me que sim e aconselhou-me a ir ver os jogos. Não é que perceba muito de futebol mas dois miúdos chamaram-me logo à atenção, principalmente ele. Só precisei de meia hora para ver que era jogador», desvenda o antigo autarca, pleno de orgulho, ao Maisfutebol.

Falou com o pai de Djaniny, um funcionário da câmara local, que lá deixou partir um dos seus numerosos filhos. «Temos uma escola profissional que, no âmbito da nossa colaboração entre municípios, recebe muitos estudantes cabo-verdianos. A ideia era essa, pô-lo a estudar, mas ele queria mesmo era jogar futebol», prossegue António Silveira, que voltou assim a «levar» um talento para São Jorge.

Alimentado com bifes e assistências do capitão

No Velense, deu nas vistas, esteve à mão de semear do Santa Clara, mas acabou na U. Leiria. Ficaram as saudades. «É uma pessoa simples, de uma família humilde, mas boa gente. Oxalá tenha sorte e quem o oriente. Acredito que o sucesso não lhe subirá à cabeça. Tem os pés bem assentes na terra», vaticina o ex-edil, com cujo filho, Ricardo Silveira, Djaniny partilhava o balneário e os bancos da escola.

Benfiquista dos quatro costados, António Silveira não esconde «o gozo» que sentiu ao ver o craque marcar em pleno estádio José Alvalade. «O Sporting lá ganhou e foi melhor assim, ninguém ficou chateado. Com o Benfica? Pode fazer dois golos, desde que o meu clube faça três, não há problema», riposta, bem-disposto, prometendo encontrar-se com o antigo protegido na próxima viagem ao continente.


P.S.  E eu, que depois de vê-lo jogar indiquei a um certo e determinado clube...Não sabem o que perderam!!
Muito dinheiro, que vai fazer muita falta, mas enfim, é que percebem de bola e eu devo perceber de Bilhar...

Medina



2 comentários:

César João disse...

Desejo-lhe a si e a todos os que visitam este blogue, um Santo e Feliz Natal!Festas Felizes!!!

César João

Medina disse...

Agradeço e retribuo!
Abraço
Medina